segunda-feira, 11 de maio de 2009


Pulou. Lançou-se em queda livre submerso em um nada de vento e adrenalina. Nos derradeiros segundos que se seguiram, sua mente oscilou entre pensamentos aterrorizantes e nostálgicos, enquanto seu corpo rompia desesperadamente o ar. Por incrível que pareça, faltou-lhe o ar. Os olhos abertos, incapazes de enxergar um palmo a distância do turbilhão de cores que borravam o seu fim. A boca seca, incapaz de produzir qualquer som que sobressaísse o de sua morte. Estava próxima. Estava próximo. Pensou em tudo que viveu. Havia vivido? Tudo tornara-se somente lembranças e, em alguns segundos, até as lembranças deixariam de existir. Logo, pensou em tudo que não viveu. Como havia perdido tempo no ermo de sua solidão; como jogara fora as oportunidades; como não amara; como não sorrira; como não correra; como não havia se entregado aos seus instintos quando eles pulsavam em seu peito, nem lutado por suas verdades; como não havia buscado pelo novo quando diziam para fazê-lo. Poderia voltar? Olhou para trás e viu uma vida inteira de lacunas abertas sob um céu azul imenso. Olhou para frente e tudo entrou em foco, o fim tornou-se visível. Um temor repentino tomou conta de si. Era agora. Fechou os olhos, pensou uma última vez. Um baque surdo silenciou-o e então não viu mais nada.