domingo, 24 de agosto de 2008


A rotina perseguia Roberto como um cão persegue um gato. Acordava todo santo dia às 7:03 da manhã. Sentava, hesitava, levantava. Seu banho durava exatos vinte minutos, e fechava a torneira sempre com a mão direita. A gravata só era posta após o café-da-manhã, duas fatias de pão torrado e uma caneca pela metade de café. Antes de sair para o trabalho dava uma olhadela no quarto do filho, batia a porta e entrava no carro.


Roberto seguia sempre pela mesma avenida, olhando sempre à frente, com a mesma velocidade sempre. Ouvia sempre a mesma rádio, parava sempre nos mesmos semáforos, tamborilava sempre com dois dedos o volante do carro, e remexia sempre o porta-luvas, desinteressado. Balançava a cabeça para o velho de estacionamento, e dirigia-se pra mesma vaga de sempre, a qual não sabia sequer o número. Cumprimentava os colegas, a secretária, e se enclausurava no escritório, até o final do dia, quando todo o percurso seria metódica e inversamente refeito.


Era aparente para todos a estranheza do comportamento de Roberto. Uns diziam que ele não passava de um detalhista psicótico e obsessivo. Outros diziam que Roberto havia enlouquecido com a morte da mulher. Mas a verdade é que Roberto não era louco, e muito menos um detalhista psicótico e obsessivo. Agia de tal forma involuntariamente, alheio a qualquer sentimento e a qualquer noção de realidade. De fato não era louco.


Certo dia, Roberto acordou às 7:10. Levantou-se rapidamente e se apressou no banho para recuperar o tempo perdido. Uma das torradas acabou torrando demais e Roberto foi obrigado a comer apenas uma fatia de pão. No carro, notou que a avenida que sempre seguia tinha um parque, com uma grama verde e pássaros. Perguntava-se como não havia reparado antes. Percebeu como o velho do estacionamento tinha um rosto simpático e como os seus olhos azuis brilhavam. E que todas as pessoas respondiam ao seu bom-dia. Reparou como sua secretária sabia combinar os tons de roupas. E como era bela a vista do seu escritório. O seu azul brilhava.


Naquele dia Roberto se sentiu mais feliz.

6 comentários:

Tyci Olvieira disse...

É bom sair da rotina.

Bruna Trindade disse...

gostei do seu blog . te linkei lá no meu!!
fiz um texto q fala de rotina tbm
é aquela história .."toda rotina tem sua beleza"

VicK disse...

Oláa visitandoo e aproveitando p dizer q gostei do blog .. de verdade
grande beijooo

Flávia Ramos disse...

Gracias mi lord.:D

Gustavo Hermes Soares disse...

Tenho simpatia por pessoas assim, metódicas...
Acho que por que sou um pouco assim. Mas tento evitar, juro!

É. Roberto é uma boa pessoa =)

Mylla Regina disse...

Eu conheço um Roberto...