segunda-feira, 11 de maio de 2009


Pulou. Lançou-se em queda livre submerso em um nada de vento e adrenalina. Nos derradeiros segundos que se seguiram, sua mente oscilou entre pensamentos aterrorizantes e nostálgicos, enquanto seu corpo rompia desesperadamente o ar. Por incrível que pareça, faltou-lhe o ar. Os olhos abertos, incapazes de enxergar um palmo a distância do turbilhão de cores que borravam o seu fim. A boca seca, incapaz de produzir qualquer som que sobressaísse o de sua morte. Estava próxima. Estava próximo. Pensou em tudo que viveu. Havia vivido? Tudo tornara-se somente lembranças e, em alguns segundos, até as lembranças deixariam de existir. Logo, pensou em tudo que não viveu. Como havia perdido tempo no ermo de sua solidão; como jogara fora as oportunidades; como não amara; como não sorrira; como não correra; como não havia se entregado aos seus instintos quando eles pulsavam em seu peito, nem lutado por suas verdades; como não havia buscado pelo novo quando diziam para fazê-lo. Poderia voltar? Olhou para trás e viu uma vida inteira de lacunas abertas sob um céu azul imenso. Olhou para frente e tudo entrou em foco, o fim tornou-se visível. Um temor repentino tomou conta de si. Era agora. Fechou os olhos, pensou uma última vez. Um baque surdo silenciou-o e então não viu mais nada.

3 comentários:

Icaro Simões disse...

Boa, velho, gostei muito desse texto.

Mas o cara pulou bem do alto, pra dar tempo de pensar em tudo isso

E você escreve bem, continue

Bruna Trindade disse...

Pena..
..mesmo vivo, estava morto !

Tyci Olvieira disse...

Menino, até que você mostrou que vc possui um Q.I. elevado nesse texto, rs. Só nesse.
Vo escreve tão bem.
Relamente, é triste ver as pessoas que nao vivem a vida como nós, rs.